A partir de suas próprias trajetórias, processos de pesquisas e atuações profissionais, estudantes de Ciências Sociais apresentam a pluralidade de vozes, corpos e pensamentos de intelectualidades negras
O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da USP organiza o evento Sexta do Mês de Dezembro – Intelectualidades Negras, nesta sexta-feira, 8, a partir das 17 horas. O encontro é gratuito e acontece na Sala 24 do prédio das Ciências Sociais, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Não é necessário se inscrever e haverá transmissão ao vivo pelo Canal Sexta do Mês do YouTube.
A Sexta do Mês de Dezembro propõe uma mesa para refletir sobre a produção intelectual de pessoas negras a partir de suas próprias trajetórias, além de processos de pesquisas e atuações profissionais, trazendo para a roda questões de gênero, experiências de pessoas negras periféricas, o agenciamento das religiosidades e a fundação do que chamaram de uma “piscopatologia preta”. Nesta edição, a proposta da conversa é discutir os temas pelo viés da interdisciplinaridade e da interseccionalidade – a interação entre duas ou mais questões que formam a identidade de um indivíduo.
Participam da conversa Fernanda Martins, doutoranda em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença (NUMAS) da USP; Layne Gabriele, graduanda do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp e educadora popular; e Victor Mateus Duarte, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do ABC. A mediação será de Alessandra Tavares, doutoranda do PPGAS.
Intelectualidades Negras
Em sua conta do Instagram (@uma_intelectual_diferentona), a filósofa e professora do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia, Bárbara Carine, publicou um vídeo discutindo como a branquitude não vê intelectualidade em atividades negras. A educadora lembra o episódio em que um professor lhe disse em sala de aula: “Preto só toca berimbau porque só tem uma corda”. Uma nova versão da afirmação de Antônio Natalino Dantas para “O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais, não conseguiria”, em 2008, em entrevista à Rádio Band News FM. Na ocasião, o médico justificou a afirmação no baixo desempenho da Universidade Federal da Bahia no Enade, apesar de ele mesmo ter sido o coordenador do curso de medicina da universidade. Para a filósofa, apesar de não reconhecerem a genialidade das atividades negras, os mais ricos e famosos mestres de capoeira são justamente brancos. “Se apropriaram da cultura negra e monetizaram, porque a branquitude entende de perpetuação de riquezas. A gente ainda está tentando viver para sobreviver”, diz.
Para a Comissão da Sexta do Mês, ainda que boa parte das instituições perpetuem uma prática racista, as intelectualidades negras – e suas referências e inspirações – modulam transformações significativas nas subjetividades e fincam no cerne da “constituição moderna” a arte e a política de resistir.
De acordo com a divulgação do evento, apresentar as intelectualidades negras enfatiza a pluralidade de vozes, corpos e pensamentos de pessoas cuja centralidade recai na vivência enquanto sujeitos plurais – para além do universo acadêmico.
“Evidenciar as intelectualidades negras permite repensar as fraturas da sociedade, levando em consideração todo seu contexto sócio-histórico, bem como promove também uma reviravolta nos registros históricos oficiais da humanidade e suas instituições. Essa perspectiva engendra uma construção de produção do conhecimento contra-hegemônica, pautada na luta contra o racismo e as desigualdades sociorraciais nos diversos seguimentos e áreas do conhecimento”, informa a comissão.
Sextas do Mês
O Sextas do Mês é um evento mensal organizado por estudantes do programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. O grupo realiza debates sobre temas candentes da antropologia e disponibiliza o conteúdo no YouTube.
Saiba mais: https://www.youtube.com/@sextadomesppgasusp4939