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quem é a primeira mulher que conquista o Prêmio Gutierrez de Melhor Tese em Matemática – Jornal da USP


Ela saiu da Costa Rica aos 21 anos para realizar o sonho de se tornar pesquisadora em matemática no Rio de Janeiro. Oito anos depois, fazendo pós-doutorado na Áustria, retornará ao Brasil para receber o Prêmio Gutierrez de Melhor Tese em Matemática no dia 25 de setembro. Além de um reconhecimento à excelência do trabalho que marcou a conclusão de seu doutorado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a conquista de Emily Quesada-Herrera significa muito mais: é uma oportunidade para dar visibilidade às causas pelas quais ela vem lutando nos últimos anos.

“Tive muitas oportunidades que são sistematicamente roubadas da maioria das pessoas trans na América Latina, começando por coisas básicas, como educação, mesmo isso vindo com o preço de esconder minha identidade por anos”, revela a pesquisadora. A transição de gênero de Emily foi um processo que se iniciou há cerca de dois anos, mas que só se efetivou depois da conclusão do doutorado: “Foi quando me senti pronta”.

No começo, ela diz que foi difícil, mas contou com muitos apoios fundamentais como do ex-orientador no doutorado e no mestrado, professor Emanuel Carneiro, do Impa; da família, que mora em San José, capital da Costa Rica; e dos colegas da Áustria, onde está desde o ano passado.

“Houve muitas dificuldades no meu processo. Mas também, por outro lado, quero reconhecer que ainda tive privilégios. Tem experiências trans distintas da minha, por interseções de diversas identidades além de gênero, como raça, deficiência, condições econômicas, que frequentemente são também ignoradas”, reconhece a pesquisadora. “É necessário lutar socialmente por melhores condições. Eu mesma me beneficiei das lutas coletivas de pessoas antes de mim, como o direito a meu nome, algo que muitas pessoas na América Latina ainda não têm.”

Na ciência, o direito ao nome é também o direito ao reconhecimento das próprias publicações acadêmicas, sem as quais não há futuro na carreira. Ao adotar um novo nome, em sintonia com sua nova identidade de gênero, Emily precisou entrar em contato com todos os veículos de comunicação científica em que havia publicado trabalhos para que pudessem atualizar a informação.

Desde que passou a fazer parte da Associação Matemática LGBTQ+ Spectra, ela tem participado de iniciativas em prol de aumentar a visibilidade da comunidade matemática trans e não binária. Com certeza, a conquista do Prêmio Gutierrez de Melhor Tese em Matemática é mais uma oportunidade para abordar a temática. Emily sabe que a luta por tornar a matemática um lugar mais inclusivo está apenas começando, mas histórias como a dela podem contribuir muito para diminuir as muitas barreiras que ainda existem.





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