Segundo especialistas, o problema está associado aos aspectos e vivências da maternidade, como a dedicação, e pode ser mais comum em mães de primeira viagem
A palavra em inglês burnout, pode ser traduzida para o português como “esgotamento”, segundo o dicionário Cambrigde. É dessa forma que os acometidos pela síndrome que leva esse nome se sentem: esgotados por questões ligadas à condições estressantes de trabalho. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a síndrome de burnout como uma doença ocupacional, causada por um estresse crônico de trabalho mal administrado.
Essa condição complicada, atualmente, ganhou mais uma camada diretamente do universo parental: uma síndrome de burnout que acomete mulheres que têm filhos, chamada de burnout materno.
Síndrome de burnout e burnout materno
Teng Chei Tung, médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que, no burnout materno, a ideia de sobrecarga – sentida pelos acometidos pela síndrome de burnout – também existe, mas está associada aos aspectos e vivências da maternidade, como a dedicação, e pode ser mais comum em mães de primeira viagem ou durante os primeiros meses pós-parto, devido à falta de experiência nos cuidados com os bebês e à elevada carga de tempo demandada.
“Pode envolver trabalho profissional, mas envolve todos os outros aspectos da vida pessoal, da vida familiar, dos compromissos domésticos – coisas que estão relacionadas com esse estado de ser mãe”, comenta Tung.
O burnout é um estado mental que não tem limites e a ausência de sintomas definidos dificulta a obtenção de um diagnóstico preciso. O médico explica que existem outras condições que acometem mães e que possuem sintomas semelhantes aos apresentados pelas mulheres que apresentam o burnout materno.
O blues puerperal é um transtorno em que a mãe apresenta sintomas depressivos que acontecem, geralmente, no primeiro mês, e costuma durar entre sete e dez dias, menos de duas semanas. “Os sintomas fazem a mulher pensar ‘acho que não vou dar conta da criança’, e começa a chorar… mas isso passa, é rápido. Até 50% das mulheres têm momentos assim, que ficam flutuando, e isso é considerado uma reação normal e não merece tratamento formal, só um suporte.”
Além dessa condição, algumas mulheres também experienciam sintomas de depressão pós-parto, doença em que as mães apresentam sintomas de tristeza profunda, insônia, alteração no apetite, desânimo, culpa e se sentem incapazes. De acordo com Tung, esse é o quadro mais grave e geralmente dura mais de duas semanas. Se os sintomas forem fortes e incapacitantes, as mulheres devem procurar tratamento.
Possíveis prevenções
Não é possível prever se alguém terá um transtorno mental, mas é possível tomar alguns cuidados para prevenir sobrecargas excessivas. Sigmar Malvezzi, professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP, acredita que a melhor forma de realizar essa prevenção é através do apoio de alguém próximo à mãe que seja de confiança e que consiga auxiliá-la de maneira empática, interpretando sinais e confortando a mulher.
Essa ajuda pode ser iniciada durante a gestação, através de processos de educação e um suporte psicossocial bem orientado. Na fase mais aguda pós-parto, o auxílio de terceiros com habilidades e mais experiência pode servir de apoio para as mães.
Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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