Reunindo todos esses dados, Oliva percebeu que, mesmo sem influência direta da obra ou da gestão de Paulo Freire, muitas de suas premissas permeiam as práticas dos educadores. Premissas que, de acordo com o pesquisador, fizeram parte de uma gestão pioneira em consolidar a perspectiva de uma escola sem muros, onde ruas e movimentos sociais faziam parte da constituição do conhecimento.
Além disso, suas conclusões salientam a importância da inserção do processo educativo na realidade local, em parceria com universidades e organizações sociais e comunitárias. As primeiras agindo na formação continuada e as segundas, aponta Oliva, colaborando com o estudo da realidade e a construção de projetos educacionais significativos, com participação ativa de alunos, professores, famílias e toda a comunidade. “As universidades podem colaborar com conhecimentos técnicos e científicos e a formação permanente de professores”, comenta. “Além disso, as organizações e movimentos sociais, as associações de moradores e coletivos culturais também podem colaborar, porque estão inseridos nos territórios”.
Temas geradores elaborados por toda a comunidade, interdisciplinaridade, leitura da realidade e diálogo são alguns dos fundamentos lançados no início dos anos 1990 e que, segundo Oliva, continuam essenciais para uma educação popular, crítica e libertadora.“Pensando que estamos hoje no debate sobre a curricularização da extensão, é preciso considerar essa experiência”, aponta.
Para o pesquisador, é fundamental que o processo educativo não esteja isolado, mas sim inserido nessa tríade que envolve a comunidade local em parceria com a universidade e com movimentos sociais. “Infelizmente, nós vemos cada vez mais a escola fechada, deixando de ser esse pólo de discussão política e transformação da realidade, um lugar de encontro, público, uma praça pública”, analisa. “Essa integração entre universidade, escola pública e território – considerando a educação formal, a educação social, os coletivos e organizações sociais – tem a potência da construção de um conhecimento coletivo, em prol da qualidade de vida das pessoas em uma perspectiva libertadora e crítica, como diria Paulo Freire”, finaliza.
Das frestas dos muros: o ensino de arte em diálogo com o território, a partir de Paulo Freire, Leandro de Oliva Costa Penha, estará disponível a partir de outubro na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.